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Povo Tikuna, no Amazonas, promove troca de experiências para o fortalecimento do seu artesanato tradicional
Como parte do projeto “Tchirugüne: Fortalecimento econômico-cultural e proteção territorial na Terra Indígena Betânia”, indígenas do povo Tikuna da aldeia Vila Betânia-Mecürane, no município de Santo Antônio do Içá (AM), participaram do primeiro intercâmbio em artesanato Tikuna. A atividade envolveu cerca de 70 pessoas, entre jovens, mulheres, professores, anciãs e lideranças no mês de setembro deste ano.
O projeto é realizado pelo Instituto N’gutapa em parceria com a Amazon Conservation Team Brasil (ACT-Brasil), e é uma das 40 iniciativas apoiadas pela Modalidade Comunidades do Floresta+ Amazônia. Ao todo, o Floresta+ Comunidades está investindo mais de R$33 milhões em oito dos nove estados da Amazônia Legal.
A oficina teve foco no incentivo e apoio à produção de artesanato local, como cestarias, escultura em madeira e arte em plumas em diferentes acessórios como colares, pulseiras e brincos. A programação foi ministrada pelas artesãs Tikuna Lola Ramos e Lazita Honorato Costólio. Ao final, foi realizada uma exposição, com direito a comercialização dos produtos no território.
Toda atividade foi organizada pela comunidade, que escolheu as duas especialistas que estariam à frente das oficinas. Lola Tikuna saiu de sua comunidade, em Belém do Solimões, a convite dos Tikuna da Vila Betânia. “Nessa oficina, os tikuna tiveram total autonomia na organização. Os três articuladores locais de artesanato do projeto planejaram toda a atividade, desde a logística e a compra dos alimentos, ao cronograma e quem eles queriam convidar. Foram eles que escolheram a artesã de outro território e a artesã da comunidade. Além disso, toda oficina foi realizada na língua tikuna, sem tradução para o português”, explicou Roberta Anffe, antropóloga e analista de campo à frente do projeto na ACT-Brasil.
Para o jovem Tikuna Rafael Mocambito, a busca pela sustentabilidade nas atividades de produção é urgente e mostra a importância dos povos originários como guardiães da floresta. “Os nossos saberes ancestrais nos ensinam como somos fundamentais para uma nova consciência civilizatória e humanitária. Estamos sentindo na pele, seja no campo, nos rios, nas florestas ou nas cidades”, ressaltou.
Roberta Anffe explica que, além da formação, o encontro propiciou a oportunidade de troca de conhecimentos e práticas entre o povo tikuna de diferentes territórios. “Foi um intercâmbio interessante entre pessoas de dois territórios, com grande participação das mulheres. Lola é de uma aldeia distante, quase não sai de sua comunidade, precisou viajar um dia de lancha para chegar até a Vila Betânia. Foi uma oportunidade interessante para ela conhecer outro território. Além das duas anciãs que estiveram à frente das oficinas, outros artesãos tikuna também participaram do processo e se voluntariaram naquele momento, para a partilha dos seus conhecimentos”, completou.
A jovem comunicadora Tikuna e integrante do Instituto N’gutapa, Neilanny Januário, de 18 anos, avalia que a oficina vai ajudar a tornar a produção de artesanato mais consciente com relação ao meio ambiente. “É uma forma de envolver a comunidade nos os esforços para a conservação dos recursos naturais”, enfatizou.
O Projeto Floresta+ Amazônia é uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com apoio do Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund – GCF). Até 2026, serão investidos 96 milhões de dólares nos estados amazônicos, por meio de ações e incentivos financeiros, com pagamentos por serviços ambientais e a execução de projetos que beneficiarão diretamente as comunidades locais.