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Mutirão integrado no Amazonas inclui agricultores e agricultoras familiares indígenas no edital de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA)
Que os povos originários da Amazônia são protetores da natureza e sabem a importância da floresta para o equilíbrio ambiental e da vida, não é novidade. E para reconhecer ainda mais esse papel fundamental dos indígenas, o Floresta+ Amazônia realizou, entre os dias 28 de julho e 1 de agosto, um mutirão integrado voltado à parte dos indígenas que vivem na Comunidade Uaupés, no município de São Gabriel da Cachoeira (AM). A cidade, no alto Rio Negro, tem a maior população indígena no Brasil, reunindo mais de 24 etnias.

Nos seis dias de serviços, 464 agricultores foram atendidos (sendo 284 mulheres – 61%), 452 receberam atendimentos de Cadastro Ambiental Rural (CAR) e 292 se inscreveram no Edital de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Floresta+ Amazônia e, após análise, poderão receber benefícios financeiros pela área conservada em suas propriedades rurais. Entre os inscritos foi possível registrar indígenas das etnias Baré (112), Tukano (79), Baniwa (57), Tariana e Pira-Tapuya (31), Tuyuka, Tessano e Wanano (17), Desana (16), Mirity-tapuya (12), Koripako (11), Kubeo (9), Arapaso (5), Siriano e Werekena (02), além de um participante das etnias Bará, Tenasu, Hupda e Kotiria. Outros 28 participantes não se identificaram como indígenas.
A ação foi realizada em conjunto com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), que fez a análise e validação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), e com o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que já vem atuando na área desde 2008 e forneceu aos agricultores da Uaupés a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), que é um instrumento legal, com força de escritura pública e que transfere o direito de uso de um imóvel da reforma agrária para um beneficiário, de forma gratuita. A ação também só foi possível pela atuação da Associação Agrícola Teotônio Ferreira, que faz a gestão da comunidade e vem mobilizando os agricultores para a regulação fundiária e ambiental, além da garantir a presença de todos no mutirão. A Prefeitura e a Câmara Municipal também apoiaram a ação.

Liderança indígena que sempre incentivou a regulação e a importância da conservação, Rosa Mota, agradeceu a presença das organizações, que, segundo ela, só trarão benefícios para a comunidade. “Desde que eu era presidente da Associação Teotônio Ferreira, eu já falava sobre os benefícios de se manter regularizado e de preservar a natureza pro futuro dos nossos filhos. Nós, indígenas, trabalhamos deixando a reserva, mesmo tendo a capoeira, mesmo produzindo, a gente não desmata tudo, sempre pensando no futuro dos nossos filhos”, explicou liderança, que é da etnia Baré.
Para os agricultores e agricultoras que cumpriram o critério analisados no mutirão a partir da vegetação remanescente e se inscreveram no edital, receber o PSA é um “presente” a mais para quem já preserva a floresta ao redor das roças e nas nascentes dos igarapés, cenário muito comum nos terrenos da comunidade Uaupés. É o exemplo do casal Olímpia e Arthur, ela Baré e ele Werekena.

“Eu me sinto muito feliz por ter feito a inscrição nesse projeto. Com esse dinheiro, vou poder me dedicar à criação dos animais, à horta e a preservar a floresta”, disse Olímpia. Para seu Arthur, preservar a floresta é pensar no futuro dos filhos e dos netos. “Esse mutirão foi muito bom. A gente não pensa só em nós, a gente não pensa só em ganhar dinheiro, a gente pensa em preservar a área mesmo. No nosso terreno a gente se sente bem, não é como na cidade”, disse o agricultor.

A agricultora Rosália Freitas dos Santos, da etnia Tukano, achou que se inscrever no edital é uma “oportunidade” para produzir e preservar. “A gente sobrevive da agricultura, produz, planta e colhe, mas preservar a floresta também é importante para nós. E todo mundo sabe que desmatar e queimar a mata é crime”, disse ela, que produz macaxeira, açaí e outras frutas.

Ação integrada e em rede – Os resultados só foram possíveis graças à ação em rede e integração entre os órgãos fundiários, ambientais e o Floresta+. A primeira iniciativa começou ainda em 2008, quando o Incra realizou o trabalho de identificação do perfil da área para regulação fundiária e, entre 2023 e 2025, fez a emissão de 549 CDRU´s, o que permitiu a essas famílias avançar nas etapas de cadastro ambiental e inscrição no edital do CAR durante o mutirão. Outras famílias da comunidade ainda podem ser beneficiadas.
Sobre o Projeto Floresta+ Amazônia – O Floresta+ Amazônia é uma iniciativa de cooperação internacional liderado pelo Governo Brasileiro, por meio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), com financiamento do Fundo Verde para o Clima (GCF).