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Famílias quilombolas do Maranhão recebem apoio do Floresta+ Amazônia para fortalecer agroecologia em comunidades

Segurança alimentar, geração de renda e fortalecimento territorial são alguns dos elementos-chave das ações dos projetos executados em 10 comunidades quilombolas nos municípios de Santa Rita e Anajatuba, no Maranhão. São centenas de famílias de agricultoras e agricultores quilombolas que começaram a receber serviços de extensão rural e melhoramento em unidades de beneficiamento de mel e mandioca a partir de dois projetos. A iniciativa acontece no âmbito do apoio do Projeto Floresta+ Amazônia.

No quilombo Cariongo, em Santa Rita, o projeto “Quintais Produtivos de Cariongo” vai atingir diretamente cerca de 30 famílias e prevê o melhoramento dos quintais, com hortas agroecológicas, cultivo ou manejo de espécies florestais, frutíferas, medicinais, a criação de animais de pequeno porte e a implantação de um viveiro coletivo com diversidade de mudas para oportunizar a geração de renda. O projeto também inclui elaboração coletiva do Plano de Gestão Territorial Quilombola. 

Já em Anajatuba, são nove comunidades quilombolas beneficiadas pelo projeto “Renascimento Agroecológico nos Quilombos: Roças, Quintais e Agroindústrias Quilombolas”, com o alcance de mais de 150 famílias nos quilombos Pedrinhas I; Pedrinhas II; Centro do Isidório; Quebra; Capim; Bom Jardim; Ponta Bonita; São Pedro e Ilhas do Teso. Esses locais integram a União das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Município de Anajatuba (Uniquituba).  

É um projeto que também prevê o melhoramento dos quintais produtivos nas unidades familiares, com os mesmos objetivos de Cariongo. Os diferenciais no projeto de Anajatuba são: adequação, implantação e registros de agroindústrias de processamento de mel e mandioca em três comunidades e, ainda, a implantação de roças coletivas agroecológicas, visando a construção de novos conhecimentos sobre manejo de áreas produtivas e aumento da produtividade das culturas cultivadas. 

EQUILÍBRIO AMBIENTAL  – Beneficiária na área de Anajatuba, Maria da Conceição Paiva Rodrigues participou desde o processo de discussão e elaboração do projeto. Ela vive no quilombo Ponta Bonita há 52 anos, sendo uma liderança ativa que coleciona diversas atividades: é professora, agricultora familiar, artesã e representante comunitária. Em sua propriedade, junto com o marido José Balbino Rodrigues, possui lavoura, cria galinhas e porcos, cultiva árvores frutíferas, plantas medicinais e outras atividades rurais em seu quintal, tanto para o consumo da família como para a comercialização. 

“O principal do projeto é que ele vai melhorar a qualidade de vida das famílias nos quilombos, mas, também, continuará fortalecendo a nossa comunidade a tirar nosso sustento utilizando a natureza com respeito e equilíbrio. É um apoio técnico necessário, que sempre foi um desejo do povo daqui. Temos o orgulho de olhar para a natureza e nos sentir parte da construção e do cuidado com ela”, comenta Maria da Conceição sobre o papel do seu quilombo no uso sustentável dos recursos. 

Apesar da busca constante pelo equilíbrio entre as atividades produtivas e a preservação do meio ambiente, os projetos vão ajudar na resolução de grandes dificuldades que as comunidades enfrentam. Os agricultores e agricultoras familiares desejam mais capacitação na utilização de tecnologias agroecológicas para a produção. Também não há acesso aos serviços de assistência técnica e extensão rural, tendo pouco planejamento estratégico feito para as atividades no campo. A falta de insumos e equipamentos essenciais para o trabalho, segundo relatam as comunidades, é uma dificuldade do trabalho no dia a dia. 

Nos objetivos dos projetos, está a preservação do modo de cultivo tradicional utilizado para a alimentação humana e animal,  importante para as comunidades quilombolas que observam o desaparecimento progressivo desse modelo de cultivo, por conta do desmatamento em torno de suas áreas e da introdução dos melhoramentos genéticos. Esse melhoramento genético é o processo de selecionar ou modificar intencionalmente o material genético das sementes. Já nas agroindústrias de mel e mandioca de alguns dos quilombos beneficiados, as estruturas são antigas e falta adequação às normas sanitárias e às boas práticas de comercialização.   

“Nasci e me criei aqui, e uma das coisas que mais gosto é saber exatamente de onde vem o alimento que estou comendo, sem veneno. Com o projeto, espero que ele traga mais produção para a gente e melhorias no modo de cuidar da criação, lavoura e tudo mais que nossa comunidade produz tradicionalmente, respeitando o meio ambiente e a nossa cultura. A pretensão é expandir o nosso poder de venda e a gente também continuar se alimentando bem”, explica o agricultor quilombola de Ponta Bonita, José Balbino Rodrigues.  

QUILOMBOS – O Maranhão é o estado com maior número de quilombos no Brasil: são 816 comunidades certificadas pela Fundação Cultural Palmares atualmente. Também é o estado com a segunda maior população quilombola do país, são 269.074 pessoas que se autodeclaram quilombolas e vivem em 32 municípios maranhenses (IBGE, 2022). 

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam) realizaram, em 2021, um diagnóstico sobre Agricultura Familiar Quilombola junto a 211 comunidades/associações quilombolas no Maranhão, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Tocantins e no Quilombo Mesquita (GO). 

O diagnóstico levantou problemas que ocorrem no exercício da atividade nas comunidades quilombolas. Alguns dos pontos levantados neste diagnóstico são atacados pelos objetivos desses projetos elaborados pelas comunidades dos municípios de Santa Rita e Anajatuba. Falta de equipamentos e a ausência de acompanhamento técnico continuado, que decorre da necessidade de qualificação técnica para o beneficiamento da produção. O mapeamento evidencia, ainda, a baixa qualidade na produção e o baixo volume produzido, assim como  a falta de precificação adequada e adequações da produção às normas da vigilância sanitária e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).  

FLORESTA+ AMAZÔNIA  – Com duração de 24 meses, os projetos nos 10 quilombos maranhenses são apoiados pelo Projeto Floresta+ Amazônia no âmbito da modalidade Comunidades. O Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) é a organização implementadora dos projetos, em parceria com a Associação dos Agroprodutores Rurais da Vila Cariongo e a Uniquituba. Essa é uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), com apoio do Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund – GCF). 

Conforme a coordenadora do Projeto Floresta+ Amazônia no ISPN, Ana Tereza Ferreira, as comunidades atendidas possuem um legado histórico na preservação e uso de práticas sustentáveis de cultivo da terra. “Ambos os projetos foram desenhados para apoiar a autossuficiência das comunidades quilombolas, garantindo que seus modos de vida tradicionais sejam respeitados e ampliados com base nas práticas agroecológicas. Estes projetos não apenas visam melhorar a qualidade de vida das comunidades, mas também buscam servir como modelo para práticas de desenvolvimento que respeitam e promovem a diversidade cultural e ambiental”, declarou.

Em agosto de 2024, entre os dias 20 a 23, mais de 100 famílias receberam a visita de técnicos do ISPN nos quilombos Ponta Bonita, Centro do Isidoro, São Pedro, Pedrinhas  e Pedrinhas II em Anajatuba, e no Quilombo Cariongo, em Santa Rita. O objetivo foi traçar um diagnóstico inicial de execução e construir breves planejamentos individuais e coletivos das atividades a serem desenvolvidas em cada uma das comunidades e unidades familiares beneficiadas, a partir das especificidades dos projetos.   

A aposentada Maria de Nazaré Teixeira dos Santos foi uma das beneficiárias que recebeu a visita técnica da equipe do ISPN no Quilombo Cariongo. Ela desenvolve várias atividades em seu quintal, mas a principal delas é a criação de galinhas, onde conta com a ajuda dos filhos e netos que vivem na comunidade. “A criação de galinha é a atividade que mais gosto de fazer aqui no meu terreiro, pois a gente consegue comer e também vender. As galinhas dão bom retorno [financeiro]. Conversando aqui, tenho a pretensão de expandir minha criação e receber as direções técnicas certas para melhorar o que tenho”, explica. 

A coordenadora do Programa Maranhão do ISPN, Ruthiane Pereira, explica ainda que há mais duas iniciativas do Projeto Floresta+ Amazônia em processo de implementação em Terras Indígenas (TI), com os povos Guajajara e Awá. O projeto “Mulheres Guajajara: Proteção da Floresta e dos Saberes”, em parceria com a Associação Comunitária Nayrui Taw, Aldeias Tarumâ, Chupé e Lagoa Quieta, vai atuar na TI Arariboia, e o projeto intitulado “Prevenção e combate ao fogo: produção e troca de conhecimentos entre brigadas indígenas na TI Caru, Maranhão”, é desenvolvido na TI Caru, em parceria com a Associação Indígena Comunitária Wirazu.  

“Os projetos representam uma dimensão significativa nos territórios quilombolas e indígenas. São quatro iniciativas sendo executadas pelo ISPN no Maranhão, no âmbito do Floresta+ Amazônia. Essa amplitude reflete nosso compromisso com o fortalecimento territorial e a valorização dos saberes ancestrais dessas comunidades, podendo ser vista não apenas na quantidade de famílias atendidas, mas também na diversidade de ações que realizamos. É um esforço coordenado para garantir que essas comunidades possam se fortalecer de forma autônoma”, comenta a coordenadora Programa Maranhão, Ruthiane Pereira, sobre os projetos.

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